Bastou
seu discurso de agradecimento ao Governo Dilma, por ter viabilizado o
Curso de Medicina para Caicó ter caído nas redes sociais, para a
estudante caicoense, Ana Luiza virar alvo de críticas de algumas pessoas
na mesma rede. Ana Luiza foi oradora, semana passada, dos estudantes de
Medicina em solenidade no Palácio do Planalto, Brasília, durante
cerimônia dos dois anos do Programa Mais Médicos, no país. Em carta
postada no seu Facebook, Ana Luiza que na semana passada emocionou a
presidenta e milhares de brasileiros com sua história de superação, fez
um desabafo:
QUEM QUER A CABEÇA DA ESTUDANTE DE MEDICINA?
“Me pergunta, que tipo de sentimento
é o medo? Te respondo — dos outros! O meu é o mesmo há várias
luas…Deixa os verme falar pelos cotovelos eu ainda falo pelas ruas!!!!” –
Emicida.
Vim aqui pra deixar coisas claras.
Vim falar porquê a minha garganta não aguenta o nó que se formou. E eu
NUNCA fui de calar. Fui convidada a falar sobre a transformação que a
educação causou na minha vida e sobre a alegria de cursar medicina. E
assim escrevi um texto, de coração e de peito aberto. E hoje penso em
tudo que eu disse e tudo que eu queria ter dito mas não foi ouvido.
Minhas palavras ecoaram. Porém nunca foram direcionadas à NENHUM partido
político. Foi o reconhecimento de um acerto e uma reafirmação do que eu
acredito e luto. Fui atacada em minha página pessoal brutalmente por
MÉDICOS E FUTUROS MÉDICOS, além de outras pessoas.
O machismo e a elite mostraram sua
cara. Fui chamada de vadia, de MÉDICA VAGABUNDA DE POBRE, ignorante, não
merecedora de cursar medicina. Me foi dito que iam fazer de TUDO pra
que eu não conseguisse emprego depois de formada. De que eu não sabia
com QUEM estava lidando. Que eu merecia LEVAR UMA SURRA pra aprender a
deixar de ser corrupta. Me mandaram CALAR MINHA BOCA NOJENTA DE POBRE E
DE VADIA. De novo. Está tudo guardado, não para dar respostas. Mas
porque aprendi desde cedo a não responder ódio com violência. Não. Eu
NÃO tenho a SUA sede de sangue. Mas eu tenho uma novidadinha pra essa
classe COVARDE de profissionais. A mesma classe que eu já vi combinando
entre si no MESMO grupo, de “tratar mal os negros, as feministas e os
gays que chegassem nos consultórios médicos, pra que esse povinho
aprendesse seu devido lugar”.
A novidade é que minhas palavras não
foram em nenhum momento pra vocês. Vocês que ignoram a realidade cruel
vivida todos os dias nos hospitais públicos. Minhas palavras foram pros
profissionais de saúde que dão o sangue todo dia, mesmo com condições
péssimas de trabalho, com salários atrasados, numa saúde abandonada e
caótica. Eles sim, são verdadeiros heróis. Minhas palavras foram
direcionadas àqueles que acreditam e lutam por um mundo transformado a
partir da educação e do amor.
Minhas palavras foram um
agradecimento aos professores, a classe Trabalhadora com T maiúsculo!!
Que têm seu serviço desvalorizado ao máximo, mas toma a linha de frente
na luta pela transformação diária do futuro de milhões de jovens sem
oportunidade no país. Eu não fui nenhuma heroína, e eu conheço mil
médicos que são verdadeiros heróis. Que não precisaram de mais NADA além
de força de vontade pra vencer na vida. Mas me desculpa, é que eu penso
além. Eu sonho com o dia em que vamos cobrar das nossas crianças,
apenas COMPETÊNCIA pra vencer, e não mais heroísmo.Eu tô falando com
aqueles meninos que você tem medo quando para no sinal, tô falando
daqueles com fuzil na mão vigiando um fio de vida nos morros das grandes
cidades. Tô falando daquela menina que mora na rua e cata latinha,
daquele nos campos com enxada na mão cortando cana.
Daquela que perde a infância nas
esquinas da prostituição. Tô falando daqueles que você insiste em dizer
que não existem. Por quê quando você percebe que ELES EXISTEM, coça em
você uma ferida podre de 515 anos. Te dá um medo na espinha quando
aparece alguém pra defender uma educação por eles e para eles. Te gela a
alma a chegada do dia em que o povo não vai mais esquecer seus
Amarildos e suas Cláudias Silvas…. Eu já consigo imaginar muitos de
vocês rindo, pensando na reeleição garantida, enquanto veem no jornal o
povo gritando por mais prisões e menos escolas. E apesar de me doer, eu
entendo esse grito. Eu engoli meu medo porque sei que toda luta pode ser
desmerecida. Eu dei minha cabeça à prêmio, e voltei pra casa com a
esperança real de um hospital universitário pra minha região onde muita
gente tem sorte de ter a esperança de ter um prato de comida.
Eu recebi um agradecimento da
prefeita de uma das maiores cidades do país, dizendo que graças às
minhas palavras, um novo plano pra educação pública vai ser pensado, e
que ela se encheu de esperança e disposição para lutar com unhas e
dentes pelos professores da rede pública e pelos jovens em situação de
risco. Isso já me curou de todos os medos e de todo o ódio que me foi
jogado. Esperança. Vontade de mudar.
EMPODERAMENTO de um povo PELO seu
povo. Eu sei que eu não sou nada nesse sistema corrompido e intricado.
Eu sei que não sou ninguém diante dos poderosos desse país. Mas eu tenho
outra novidade, eu não estou sozinha, e gente como eu, é quem te causa
os piores pesadelos à noite. E eu vou seguir, mesmo frágil, mesmo com
medo, mas sempre acreditando. “Então serra os punhos, sorria. E jamais
volte pra sua quebrada de mão e mente vazia.”
0 comentários:
Postar um comentário