A
recessão na qual o Brasil está afundado caminha para se tornar a mais
longa, profunda e de difícil solução da História recente do país.
Iniciada no segundo trimestre de 2014, ela só deve terminar depois de
março do ano que vem, se estendendo por três anos e provocando um tombo
de 8,8% no Produto Interno Bruto (PIB). O cálculo é da economista Silvia
Matos, do Ibre/FGV, e aponta para um período de retração mais
persistente e intenso do que outras oito crises ocorridas desde o início
dos anos 1980, incluindo a da moratória da dívida externa brasileira
(1982) e aquelas do governo Collor. Segundo Silvia, ao contrário das
outras recessões, a de hoje não poderá ser solucionada por estímulo ao
crédito que aumente a inflação ou pela carga tributária.
A pedido do GLOBO, a pesquisadora projetou a extensão total da crise e comparou com dados do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), também da fundação, sobre períodos recessivos anteriores. De acordo com a especialista, o PIB só voltará a crescer no segundo trimestre do ano que vem. Para os primeiros três meses de 2017, sua expectativa é de estagnação — período ainda recessivo, portanto.
Assim, a recessão atual se prolongará por 12 trimestres consecutivos, superando a crise mais longa até agora, a ocorrida entre o terceiro trimestre de 1989 e o primeiro trimestre de 1992. Aquela crise se deu em um contexto de hiperinflação, agravado pelo Plano Collor, que causou um choque econômico ao confiscar a poupança dos brasileiros.
Em termos de impacto, Silvia projeta que os três anos de recessão que o Brasil terá vivido até o começo de 2017 vão representar um recuo econômico acumulado de 8,8%. A retração será maior que a de 8,5% registrada entre o primeiro trimestre de 1981 e o início de 1983. Até então, aquela recessão era a mais profunda de acordo com os dados do Codace, simbolizada pela histórica moratória da dívida externa brasileira.
— Em outros momentos, havia espaço para aumento da carga tributária. No passado, resolviam-se crises por meio de inflação ou tributos. Hoje, o cenário é mais desafiador porque a sociedade não vê essas como opções. Todos estão endividados nesta crise, governo, famílias e empresas. Uma “desalavancagem” é necessária, logo, não há como estimular crédito — afirma a especialista. — Há um consenso de que o governo precisa reduzir gastos, se tornar solvente, e isso passa por um ajuste duro. Muita coisa depende de uma atuação do governo.
CHOQUE APÓS EXCESSO DE OTIMISMO
Silvia acredita que houve um excesso de otimismo no segundo trimestre do ano, e que os números de setores como a indústria divulgados ontem são um choque de realidade. Além disso, ela afirma que há até uma dificuldade estatística para o país crescer. Como 2017 começará ainda com o pé no freio, ela calcula que, mesmo que a atividade fique estacionada no ano que vem, o resultado será uma contração de 0,8% no PIB. Há também a dificuldade referente ao cenário externo, após a eleição de Trump indicar uma mudança de rota na política econômica americana. Outro problema importante é a incerteza sobre a própria aprovação do ajuste fiscal em sua totalidade.
O Globo
A pedido do GLOBO, a pesquisadora projetou a extensão total da crise e comparou com dados do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), também da fundação, sobre períodos recessivos anteriores. De acordo com a especialista, o PIB só voltará a crescer no segundo trimestre do ano que vem. Para os primeiros três meses de 2017, sua expectativa é de estagnação — período ainda recessivo, portanto.
Assim, a recessão atual se prolongará por 12 trimestres consecutivos, superando a crise mais longa até agora, a ocorrida entre o terceiro trimestre de 1989 e o primeiro trimestre de 1992. Aquela crise se deu em um contexto de hiperinflação, agravado pelo Plano Collor, que causou um choque econômico ao confiscar a poupança dos brasileiros.
Em termos de impacto, Silvia projeta que os três anos de recessão que o Brasil terá vivido até o começo de 2017 vão representar um recuo econômico acumulado de 8,8%. A retração será maior que a de 8,5% registrada entre o primeiro trimestre de 1981 e o início de 1983. Até então, aquela recessão era a mais profunda de acordo com os dados do Codace, simbolizada pela histórica moratória da dívida externa brasileira.
— Em outros momentos, havia espaço para aumento da carga tributária. No passado, resolviam-se crises por meio de inflação ou tributos. Hoje, o cenário é mais desafiador porque a sociedade não vê essas como opções. Todos estão endividados nesta crise, governo, famílias e empresas. Uma “desalavancagem” é necessária, logo, não há como estimular crédito — afirma a especialista. — Há um consenso de que o governo precisa reduzir gastos, se tornar solvente, e isso passa por um ajuste duro. Muita coisa depende de uma atuação do governo.
CHOQUE APÓS EXCESSO DE OTIMISMO
Silvia acredita que houve um excesso de otimismo no segundo trimestre do ano, e que os números de setores como a indústria divulgados ontem são um choque de realidade. Além disso, ela afirma que há até uma dificuldade estatística para o país crescer. Como 2017 começará ainda com o pé no freio, ela calcula que, mesmo que a atividade fique estacionada no ano que vem, o resultado será uma contração de 0,8% no PIB. Há também a dificuldade referente ao cenário externo, após a eleição de Trump indicar uma mudança de rota na política econômica americana. Outro problema importante é a incerteza sobre a própria aprovação do ajuste fiscal em sua totalidade.
O Globo
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