Queridos amigos,
Em virtude da polêmica que envolveu minha fidelidade à Ortodoxia Católica, venho esclarecer alguns pontos.
Em nenhum momento da minha vida atentei contra a sacralidade da Igreja
Católica Apostólica Romana. Sou Mestre em Teologia Dogmática e zelo
muito para que minha pregação esteja de acordo com os ensinamentos da
Igreja. Este é o credo que professo: “Creio na Santa Igreja Católica
Una, Santa, Católica e Apostólica.” Nunca inventei uma crença
particular, ou um modo diferente de compreender esta profissão de fé.
A
expressão que usei no programa de “De frente com Gabi”, “Jesus queria o
Reino de Deus, mas nós demos a Ele a Igreja” é uma expressão muito
usada nos bastidores acadêmicos que frequentei em minha vida, e está
distante da proposta herética que ela já representou em outros tempos. O
significado evoluiu.
Nossa
Fundação é Santa, pois fomos instituídos pelo Cristo. “A Igreja é um
corpo, em que nós somos os membros e Jesus Cristo é a cabeça (Col 1,18; I
Cor 12,27). Na cabeça o Reino já está estabelecido. Em Cristo, o Reino
já está plenamente manifestado. Mas os membros do corpo ainda estão no
contexto da busca, pois continuamos arrastando as consequências adâmicas
do nosso pecado. E por isto, mesmo que em Cristo o Reino já esteja
plenamente manifestado, em nós, Igreja, povo de Deus, ele continua sendo
a meta que nunca deixamos de buscar.
O Concílio Vaticano II, através de sua Constituição Dogmática Lumen
Gentium, enfatizou que a Igreja é povo de Deus. O povo é errante, pois
apesar de estar mergulhado nas graças do batismo, ainda sofre as
consequências da fragilidade que o pecado lhe deixou. O mesmo Concílio
declarou “O Reino de Cristo já presente em mistério, cresce visivelmente
no mundo pelo poder de Deus…” (LG 3).
Presente em mistério. Isto é, cabe a nós, membros deste corpo, apressar a
sua chegada. A Igreja é triunfante, mas também é peregrina, penitente,
pois que carrega em sua carne a fragilidade de seus membros.
Sim, a Igreja é santa, mas comporta em seu seio os pecadores que somos
nós. E por isso dizemos, também com o perigo da imprecisão teológica: “A
Igreja é Santa e pecadora”. Bento XVI sugeriu modificar a expressão. “A
Igreja é Santa, mas há pecado na Igreja”. Notem que ele salvaguarda a
santidade na essência.
Mas o pecado existe na Igreja. Por isto rezamos nas liturgias diárias
pelo Santo Padre, pelos bispos, pelo clero, pelo povo de Deus. Clamamos
por purificação, luzes em nossas decisões, pois sabemos que é missão do
Espírito encaminhar na terra a Igreja que ainda não é Reino de Deus
(porque maculada pelos nossos pecados), e que ao Cristo damos
diariamente. Mas nós caminhamos na esperança. Sabemos que um dia todas
as partes do corpo estarão agindo em perfeita harmonia com a cabeça.
Seremos a “Jerusalém Celeste”.
Eu assumo que errei ao usar a expressão. Eu não estava numa sala de
aula, lugar onde a Ortodoxia convive bem com a dialética. Não considerei
que muitos telespectadores poderiam não entender o contexto da
comparação. E por isso peço desculpas. E junto às desculpas, faço minha
retratação. Nunca tive problema em assumir meus equívocos. Usei uma
expressão que carece ser contextualizada com outras explicações, para
que não pareça irresponsável, nem tampouco herética.
Repito. Eu não nego nem neguei a definição dogmática expressa na Lumem Gentium, Número 5.
“O mistério da santa Igreja manifesta-se na sua fundação. O Senhor Jesus
deu início à Sua Igreja pregando a boa nova do advento do Reino de Deus
prometido desde há séculos nas Escrituras: «cumpriu-se o tempo, o Reino
de Deus está próximo» (Mc. 1,15; cfr. Mt. 4,17). Este Reino
manifesta-se na palavra, nas obras e na presença de Cristo. A palavra do
Senhor compara-se à semente lançada ao campo (Mc. 4,14): aqueles que a
ouvem com fé e entram a fazer parte do pequeno rebanho de Cristo (Luc.
12,32), já receberam o Reino; depois, por força própria, a semente
germina e cresce até ao tempo da messe (cfr. Mc. 4, 26-29). Também os
milagres de Jesus comprovam que já chegou à terra o Reino: «Se lanço
fora os demónios com o poder de Deus, é que chegou a vós o Reino de
Deus» (Luc. 11,20; cfr. Mt. 12,28). Mas este Reino manifesta-se
sobretudo na própria pessoa de Cristo, Filho de Deus e Filho do homem,
que veio «para servir e dar a sua vida em redenção por muitos» (Mt.
10,45).”
E quando Jesus, tendo sofrido pelos homens a morte da cruz, ressuscitou,
apareceu como Senhor e Cristo e sacerdote eterno (cfr. Act. 2,36; Hebr.
5,6; 7, 17-21) e derramou sobre os discípulos o Espírito prometido pelo
Pai (cfr. Act. 2,33). Pelo que a Igreja, enriquecida com os dons do seu
fundador e guardando fielmente os seus preceitos de caridade, de
humildade e de abnegação, recebe a missão de anunciar e instaurar o
Reino de Cristo e de Deus em todos os povos, e constitui o germe e o
princípio deste mesmo Reino na terra. Enquanto vai crescendo, suspira
pela consumação do Reino e espera e deseja juntar-se ao seu Rei na
glória.”
Agradeço pela prece dos que me acompanharam neste momento tão sofrido.
Com minha benção,
Padre Fábio de Melo.
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