06/10/2025 07h27
Foto: Reprodução/Freepik
No domingo do Dia dos Pais, 10 de agosto, o Brasil viveu uma situação inédita no setor elétrico. Com o aumento da produção e a queda abrupta no consumo por causa do feriado e das baixas temperaturas, cerca de 90% da geração de energia precisou ser cortada e várias usinas foram desligadas para evitar um colapso no sistema e um possível apagão.
Especialistas comparam o cenário à crise do racionamento de 2001 — mas, desta vez, o problema é o oposto: há excesso de geração em relação à demanda. O avanço acelerado da geração distribuída, principalmente por meio de painéis solares instalados em residências e comércios, tem provocado um desequilíbrio crescente na rede.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), responsável por coordenar a oferta e a demanda de energia no país, vem perdendo controle sobre parte da geração. Isso ocorre porque a produção distribuída é injetada diretamente na rede de distribuição e não pode ser regulada em tempo real. Para equilibrar o sistema, o operador tem sido obrigado a reduzir a produção de grandes usinas, principalmente eólicas e solares, gerando impactos técnicos e financeiros expressivos. Esse corte forçado é conhecido como curtailment.
Entre outubro de 2021 e agosto de 2025, a energia solar e eólica cortada somou 39 terawatt-hora — equivalente a todo o consumo da região Nordeste no último ano. O prejuízo financeiro no período chegou a R$ 6 bilhões, metade apenas neste ano.
“A geração distribuída tem de ser marginal e não determinante. Caso contrário, coloca o sistema em risco e põe em xeque todo o modelo do setor”, alertou Elbia Gannoun, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica).
O impacto atinge diretamente investidores e empresas. A Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) estima que R$ 30 bilhões em projetos estão parados por falta de previsibilidade sobre o volume de cortes. Em alguns parques eólicos do Ceará e da Bahia, os cortes chegam a 70% da produção.
Outro desafio é a chamada “rampa” das térmicas. Como a geração solar atinge o pico entre 10h e 16h, quando a demanda é menor, e cai no fim da tarde — justamente quando o consumo aumenta —, o sistema precisa acionar usinas térmicas com antecedência, elevando custos e complexidade operacional.
“A experiência do passado já não serve para o futuro. É preciso modernizar as ferramentas de gestão do sistema”, afirmou Luiz Barroso, presidente da consultoria PSR.
O setor alerta que, se não houver mudanças rápidas, há risco de estrangulamento da cadeia eólica e solar, além de insegurança jurídica e fuga de capital. Para especialistas, o crescimento das renováveis é fundamental para a transição energética, mas precisa vir acompanhado de planejamento e políticas que garantam uma expansão equilibrada.
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