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quinta-feira, 1 de julho de 2021

Caso Dominguetti: imprensa atirou no que viu e acertou no que não viu

 


Jornais e emissoras preferiram ignorar a verdadeira bomba -- os encontros de Luis Miranda com o lobista Silvio Assis e o líder do governo, Ricardo Barros -- e acreditar em quem tentou desviar o foco da CPI
Caso Dominguetti: imprensa atirou no que viu e acertou no que não viu
Foto: Pedro França/Agência Senado

 

A imprensa tradicional decidiu, em boa parte, ignorar a reportagem da Crusoé sobre os dois encontros do deputado Luis Miranda com o lobista Silvio Assis. No segundo, estava presente o líder do governo, Ricardo Barros. Os encontros foram posteriores à reunião na qual o deputado e o seu irmão, Luis Ricardo, denunciaram diretamente a Jair Bolsonaro um esquema de corrupção na compra da vacina Covaxin. De acordo com o que apurou a revista, e confirmado por Luis Miranda, o lobista ofereceu ao deputado 6 centavos de dólar por dose de Covaxin comprada pelo governo...

Talvez por acharem Luis Miranda picareta demais (como se os denunciantes dos esquemas fossem sempre gente muito ilibada), jornais e emissoras preferiram cobrir o caso do suposto representante de uma empresa supostamente representante da AstraZeneca, o PM Luiz Paulo Dominguetti Pereira. Ele teria tentado vender 400 milhões do imunizante do laboratório anglo-sueco ao Ministério da Saúde — e teria ouvido a proposta de um funcionário do órgão, Roberto Dias, ligado a Centrão, de pagar 1 dólar de propina por dose, para que o negócio fosse efetivado. O valor da negociata sairia por 400 milhões de dólares, quantia impagável nos dois sentidos, convenhamos.

Em depoimento à CPI, hoje, Dominguetti apresentou um áudio que implicaria Luis Miranda na negociata com a AstraZeneca. O áudio parece ter sido editado. Agora, a desconfiança é a de que Dominguetti, PM declaradamente bolsonarista, foi usado para desviar o foco da CPI, afastando-a de Jair Bolsonaro, e desqualificar o que já foi revelado por Luis Miranda.

A imprensa tradicional ignorou a verdadeira bomba, a reportagem da Crusoé, e pode ter caído numa armadilha. Agora, os senadores da CPI tentam entender o que aconteceu, abrindo um novo caminho de investigação.

Jornais e emissoras miraram no que viram e acertaram no que não viram — e no que também se recusaram a ver.

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