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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Dom Jaime: Igreja é contrária a qualquer tipo de aborto


Dom Jaime Vieira

O arcebispo metropolitano de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha, afirmou esta manhã que, independentemente de quem seja o autor, a proposta que visa "ampliar a oferta de serviço de interrupção da gravidez", mesmo nos casos permitidos em Lei, conforme propõe o candidato do PDT a prefeito de Natal, Carlos Eduardo Alves, caso eleito em outubro, "poderá facilitar" a procura por este tipo de procedimento, inclusive em casos em que a Igreja é contrária ao aborto, como na situação de estupro, por exemplo. Dom Jaime também se colocou contrário ao ensino anti-homofóbico nas escolas da rede de ensino fundamental de Natal. 
"A posição da Igreja sobre o aborto está definida e clara. É importante que as pessoas tenham toda a condição, no caso a mulher, de ter o seu filho e não se sentir, por nenhum outro motivo ou manifestação de religião ou de concepção, como que obrigada a se livrar de uma gravidez por falta de condições para ter uma criança. 
De modo nenhum estamos a favor da prática do aborto, mas bom seria que as mulheres tivessem todas as condições de darem à luz, terem os seus filhos porque, normalmente, ninguém quer praticar o aborto, que é um ato terrível para a vida da pessoa, que ficará, para o resto da vida, com uma sequela do ponto de vista humano-psicológico", dissertou Dom Jaime, em entrevista no início da tarde desta quarta-feira ao Jornal de Hoje.
Segundo o arcebispo, a sociedade brasileira, a partir de sua instância judicial mais elevada, o Supremo Tribunal Federal (STF), já tomou a posição sobre o tema, que é permitir o aborto apenas nos casos já previstos na legislação (estupro e risco de morte para a mulher). Entretanto, ele conclama a comunidade católica a preservar sua convicção, inclusive a favor da vida em caso de estupro. 
"Cabe a nós, quem for católico, preservar a sua convicção e a sua orientação, que a Igreja sempre deu e dará sobre este assunto. O estado é laico, mas a formação e a referência da nossa cultura, da nossa vivência religiosa ou sentimento religioso do povo, passa por essa condição de católicos, e devemos estar atentos a princípios a partir da palavra de Deus", afirmou. 
Segundo Dom Jaime, os católicos devem orientar, acima de tudo, o princípio que defende a vida humana. "Se há concepção e, por conseguinte, ali já está uma vida, que essa vida seja preservada. Eu não posso fazer o papel de juiz e dizer: ah, ela tem tanto tempo para fazer (o aborto), se não fizer, não pode fazer. Não. Nós advogamos que em todas as circunstâncias prevaleça a preservação do direito à vida. O que está em jogo é a vida humana, a vida humana deve ser respeitada, zelada e conservada em todos os seus momentos, desde a concepção até o seu termo natural.
Dom Jaime ressaltou que existem necessidades e direitos básicos fundamentais para a vida das pessoas, que devem ter mais evidência nos planos de governo, mais importantes do que aspectos como o da ampliação da oferta de serviços de interrupção da gravidez. 
"Eu advogo que a campanha e as propostas para Natal sejam levadas em conta a partir das necessidades de direitos básicos e fundamentais para a vida das pessoas, para sua dignidade, e para o seu bem-estar. Por isso que digo que certamente há tantos setores da vida humana que estão aí visivelmente prejudicados, sem merecer a devida atenção, que vejo que são muito mais importantes do que esses aspectos", frisou. 
Par Dom Jaime, é preciso "investir na qualidade de vida, na dignidade das pessoas, na condição para que tenham saúde". Ele disse ainda ter "impressão de que tudo aquilo que vier para fortalecer o desrespeito à vida e à dignidade humana não está correto".
CUIDADO
Dom Jaime enfatizou, durante sua entrevista, que está diante de uma campanha político partidária e que ele, na condição de arcebispo, deve zelar pelo papel de pastor da Igreja de Natal, sem qualquer preferência política por partido ou candidato. "A igreja tem se pautado na contribuição da educação política que viabilize aos eleitores a sua participação legítima na escolha de seus candidatos", afirmou.
Entretanto, Dom Jaime ressaltou que os princípios fundamentais que norteiam a ética católica cristã permanecem. "Eles estão aí, na Sagrada Escritura, sobre o matrimônio, sobre a dignidade da pessoa humana, sobre o respeito incondicional à vida humana, desde a sua concepção até o seu término natural". 
Ele conclui a questão do aborto afirmando que não gostaria de se constituir juiz de programa de governo de nenhum candidato. "Quero dizer que a posição da Igreja é clara em determinados assuntos, e que estas questões devem passar em primeiro lugar pela responsabilidade da família, que é a primeira instância, mais nobre, mais santa e mais digna e, por conseguinte, mais responsável. 
Seria injusto e ingênuo achar que a sociedade está bem organizada, bem arrumada, a família muito bem constituída, podendo cumprir com todos os seus direitos e deveres quando não está. Por parte da orientação da Igreja, como católicos e como cristãos, nossa posição é em defesa incondicional da vida humana, desde a sua concepção, até o seu termo natural. E ainda mais dentro de um contexto político-eleitoral do Brasil, nós devemos estar atentos, para a condição, que nem sempre se leva em conta, de uma sociedade predominantemente cristã, católica, de formação cultural religiosa a partir destes princípios. Os católicos devem estar atentos àquilo que lhe diz respeito por convicção de princípios que devem ser assumidos e defendidos".
Sexualidade
Em relação à inserção de conteúdo anti-homofóbico nas escolas de Natal, conforme propõe Carlos Eduardo, o arcebispo metropolitano de Natal afirmou que a homossexualidade é um assunto de alta complexidade, e que, embora reconheça ser algo que deva ser respeitado, quanto ao aspecto da dignidade humana, deve ser tratado pela família, e não, legitimado nas escolas. 
"São assuntos bastante delicados, que, em primeiro lugar, caberia à própria família. E para a escola seria uma grande responsabilidade, que vai depender muito de quem vai estar passando, talvez, o conteúdo e a informação, de modo que seja isento, porque não vejo que seja objetivo e claro. Mas, se passa para esta mentalidade, este caminho ou esse discurso, de que isso aí está tudo bem, acho que não é assim".
Dom Jaime afirma não saber se o Brasil tem nível de consciência social e de formação humana capaz de suportar a inserção deste conteúdo anti-homofóbico nas escolas. "Não vejo como sendo algo, não estaríamos talvez, no país, em termos de consciência social, formação humana no nível de se oficializar ou se levar para sala de aula um assunto que é tão complexo e merecedor de tanta atenção e de um trato com profundidade e com muita responsabilidade". 
Ele afirmou ter a impressão de que não se deve legitimar tal temática na grade curricular.  "Tenho impressão que não devemos legitimar porque será que traz felicidade para as pessoas?", questiona. Para ponderar ao final: "Mas também, por conseguinte, as pessoas que estão nessa situação, elas escolheram, são assim porque escolheram. É todo um assunto bastante complexo e grave que nós não podemos superficialmente tomar uma atitude. Não vejo como sendo aspectos a serem promovidos e encarados com responsabilidade (na escola)", afirmou.

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