Atingidos pela maior seca das últimas décadas, municípios do sertão nordestino coincidem com os que tinham os piores índices de desenvolvimento humano e renda do país 12 anos atrás. Com poucas exceções –de algumas cidades banhadas pelo rio São Francisco e que recebem royalties do governo federal pelo uso da água–, a pobreza e a falta de oportunidade são marcas registradas da região. O Nordeste já tem mais de 910 municípios em emergência.
De acordo com o último Atlas do Desenvolvimento Humano, feito pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), em 2000, das quatro cidades com menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do país, três estão na lista de municípios em emergência pela seca e convivem com as estiagens.
Análise
Segundo o doutor em economia popular e professor da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), Cícero Péricles Carvalho, a seca é um elemento com forte peso na economia dos municípios, o que traz consigo pobreza às prefeituras e populações.
“As chuvas irregulares afetam o solo sertanejo, que é menos produtivo que os solos da zona da mata e do agreste. O déficit hídrico inviabiliza muitas culturas que somente produzem com a irrigação. A pecuária extensiva, o método ainda mais utilizado na área sertaneja, é muito vulnerável nos períodos de estiagens prolongadas. Essa pobreza no campo reflete-se nas localidades –pequenas e médias– onde vive a maior parte da população da região e, claro, faz baixar o IDH no seu componente renda”, explicou.
Segundo Carvalho, a maioria da população dessas cidades depende da transferência de renda dos programas sociais para sobreviver. “Atualmente, a renda sem produção –que chega pelos cartões da Previdência Social e do Bolsa Família– é mais significativa que a produzida na agricultura, pecuária e nas atividades de artesanato e indústria familiar. Nas pequenas localidades, os serviços e o comércio dependem dessas transferências, assim como as prefeituras que sobrevivem graças ao FPM [Fundo de Participação dos Municípios], transferências voluntárias, convênios e outros recursos públicos.”
Apesar de concordar que a seca é um instrumento que aumenta a pobreza, o professor de sociologia da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), Paulo Decio de Arruda Mello, diz que não há, necessariamente, uma relação direta entre a miséria dos municípios e as estiagens. “Não é uma coisa automática. Podem existir locais com produção e desempenho econômicos elevados, mas que sejam atingidos pela seca. O importante é garantir a sustentabilidade dessas áreas, com a atuação na área ambiental.”
Para o sociólogo, o sertão do Nordeste acabou sendo alvo de políticas assistencialistas ao longo de décadas, o que impediu o desenvolvimento sustentável. “A verdade é que os governos não investiram como deveriam em obras estruturantes no semiárido brasileiro. Geralmente nessas áreas que se concentram agricultura familiar, que não são commodities ou exportadores. São áreas ocupadas por economias agrícolas de pouco valor agregado, que acabam relegadas a um segundo plano. A tendência é investir mais em setores mais dinâmicos”, analisa.
Do Portal de Noticías UOL
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