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domingo, 19 de fevereiro de 2012

Sertão do RN Paisagem Muda Com a Chegada do Inverno


Quando a chuva chega no  sertão,  sua paisagem é  modificada por um  período de  três meses em que o sofrimento do nordestino  dá lugar para momentos de felicidades.  A aridez da terra seca, a mata branca sem folhagem,   se transforma de repente como num passe de mágica  em  uma pintura verdejante enfeitada com  as mais belas flores de variadas cores.  É a época do estrondo dos trovões, dos raios  cortando o infinito,  das chuvas ferindo a  terra dura e transformando o que era desolação em esperança. É a chegada da quadra invernosa,   do surgimento da babugem,  do pio madrugador e  estridente do inhambu, do retorno das avoantes que aos bandos constroem seus imensos pombais,  da volta da asa branca, do canto alegre da passarada ao alvorecer.  É tempo de bonança, dos rios cheios  desaguando para os açudes que irão transbordar numa bela sangria cheia de curimatãs desafiando a correnteza para fazer a desova que traz a vida. É tempo também de enxameação das jandaíras,  de muitas operárias no campo colhendo néctar e polinizando  plantas, de alvoroço dos zangões fecundando rainhas virgens e garantindo a perpetuação da espécie.  Enfim é festa no campo onde  o pequeno agricultor aproveita o luar do sertão, para no pátio fazer a debulha de milho e de feijão, voltando  a sonhar com dias melhores. Tendo como tema a paisagem sertaneja apresentamos hoje mais 4 estrofes com versos improvisados pelo poeta Ivanildo Vila Nova em sua  bela  poesia  “O Sertão em Carne e Alma”. Mossoró(RN)., 09 de novembro de 2010 – Paulo Menezes
No sertão a tarefa é muito dura
Mas se tem a colheita, a criação
Ferramenta da roça, produção
Uma rede, um grajau de rapadura
Uma dez polegadas na cintura
A viola, o baú, uma cabaça
A tarrafa e o litro de cachaça
Mescla azul, botinão, chapéu baeta
Fumo grosso, espingarda de espoleta
E um cachorro mestiço bom de caça
 
A riqueza do pobre nunca passa
De um pote que mata sua sede
Uma enxada num canto de parede
Dois chapéus, um de palha, outro de massa
Um cambito tingido de fumaça
Uns dez filhos que tem sua aparência
Uma esposa que é mãe da paciência
Se chorar ou  sofrer não se maldiz
E ele às vezes é  muito mais feliz
Do que um rico ladrão de consciência
 
É preciso tem muita paciência
Guardar milho num quarto empaiolado
Sustentar criação com alastrado
Numa terra que tem pouca assistência
Trabalhar no serviço de emergência
Esperando o inverno que não vem
Insistir, crer em Deus e tratar bem
Manter sempre a família tão unida
Do chão seco arrancar o pão da vida
Sertanejo faz isso e mais ninguém
 
No sertão quando o inverno não vem
Só se encontra desolação e mágoa
No riacho não vê-se um pingo d’água
Sopra um vento assombroso do além
Seca o tronco robusto do muquém
Cai a folha mais grossa, murcha a fina
Toda árvore murchece, se inclina
No calor do sol quente verga as costas
Parecendo um fantasma de mãos postas
No altar de uma seca nordestina

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